domingo, 29 de agosto de 2010

Corinthians, 100

* Por Mauro Beting

É na quarta-feira. Foi ontem. É hoje. Será sempre. O Corinthians não precisa de data para celebrar. Só precisa de Corinthians.
Pode parecer mesquinho para os outros, onanista, até. Mas isso é Corinthians para quem de fato importa – o corintiano. Basta existir.
O fiel não precisa de jogo, de estádio, de adversário, de futebol, de campeonato, de gol, de vitória, de título.

O corintiano só precisa do Corinthians para ser feliz.

Só precisa de outro corintiano para fazer festa. Ele se encontra pela rua e confraterniza como se visse um Luisinho, um Marcelinho, um Neco, um Neto, um Rivellino, um Sócrates, um Wladimir, um Cláudio, um Biro-Biro, um Zé Maria, um Basílio, um Gilmar, um Brandão, um ídolo. Um corintiano. Que não precisa ser craque, pode até ser bagre. Desde que saiba que a camisa não é um símbolo. É tudo. É Corinthians.

Não é um bando de loucos. É um corintiano. Definição precisa e perfeita. Completa e complexa. Mas simples como um torcedor que ama o time como ama a família. Se não torce de fato mais pelos 11 que jogam por todos que pelos entes queridos. Afinal, é tudo do ente. É tudo doente. É tudo Timão.

O Corinthians não é a vida de um corintiano.
Antes de ser gente ele é Corinthians.
Por isso tanta gente é Corinthians. Num Brasil imenso e injusto socialmente, o campeão dos campeões paulistas é dos maiores fatores de inclusão, justiça e igualdade no país.

Não por acaso é nação dentro deste continente. Tem regras complicadas, tem razões malucas, tem paixões regradas. Tem de tudo e tem para todos no Parque São Jorge. Na casa por usucampeão Pacaembu. No Morumbi tantas vezes palco das festas. No Maracanã campeão mundial em 2000. Nas tantas praças brasileiras que viraram casas corintianas em títulos e troféus. Até mesmo nas dores que não murcharam amores. Até mesmo nas vergonhas nos gramados e nos sem-vergonhas das tribunas e tribunais, o Corinthians sempre soube ganhar como raros, e até soube perder como poucos. Mesmo perdendo a cabeça e perdendo o juízo. Mas jamais perdendo o coração.
Doutor, eu não me engano, mesmo que meu coração seja o oposto do corintiano, não há nada que bata tanto e por tantos como esse que se diz maloqueiro e sofredor, graças a Deus!

Esse prazer de eventualmente sofrer é exclusividade alvinegra. Esse amor não se explica. É um presente. É um dom. É uma doação, mesmo quando mais parece uma danação. É sina que não se explica, que fascina até quem não é, até quem não gosta. Não sei explicar o Corinthians. Nem os corintianos conseguem.
Mas nada disso é preciso. O que importa é que sempre haverá no estádio e em cada canto um fiel. Um estado de espírito alvinegro. Um torcedor que acredita sem ter por que; que torce sem ter por quem; que joga sem ter com quem.

Listar os títulos corintianos não é fácil. Mais difícil é compreender um torcedor que até se orgulha dos fracassos. Até na segunda dos infernos. Em 2008, vi gente acreditando como sempre desde 1910. Vi fiel não abandonando. Não parando. Acreditando. Corintianando.
Fiel pode até ser rebaixado – mas não se rebaixa. Raros sabem perder e ganhar como nenhum outro jamais venceu.
Ainda mais raros (embora muitos) nasceram sabendo que quem ama não perde. Podem até ter times melhores. Mas mais amados?
Nestes 100 anos, não conheço igual.
Até porque quarta-feira não será um dia especial.
Desde 1º. de setembro de 1910, todos os dias são especiais.
Todos são dias de Corinthians.
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(* Mauro Beting é jornalista e cronista esportivo, dos bons, além de torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras. "Nunca antes na história deste blog" havia sido publicado um texto de autor que não fosse da equipe IDB. Essa exceção, ao menos para mim, é mais que justa. Ainda que seja com um palmeirense explicando o Corinthians melhor que qualquer corintiano jamais conseguirá)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eleições indefinidas em Minas Gerais

No plano federal, cada vez mais a candidatura de Dilma Rousseff (PT) caminha para ser a vitoriosa, possivelmente no primeiro turno (a não ser que apareça algum escândalo no meio do caminho. Seja ele real, ou inventado só para levar a eleição ao segundo turno). Em Minas Gerais, embora o senador Hélio Costa (PMDB) seja líder de todas as pesquisas eleitorais, o duelo com o atual governador Antonio Anastasia (PSDB) não está encerrado. Os últimos levantamentos mostram pequena queda do peemedebista, grande crescimento do tucano, e um número ainda elevado de eleitores indecisos (e é aí que os dois candidatos devem mirar).

Costa e Anastasia têm lá seus cabos eleitorais de peso: o presidente Lula (PT) e o ex-governador Aécio Neves (PSDB). Lula e Aécio são governantes bem avaliados pela grande maioria da população, e estão empenhados em eleger seus sucessores. Em uma comparação mais grosseira, Anastasia é “a Dilma do Aécio”. Mas, ao contrário de Dilma, o atual governador mineiro ainda é desconhecido de muitos eleitores. Meu palpite é que Anastasia ainda crescerá na preferência do eleitorado, e provavelmente continuará crescendo no segundo turno. Só não sei se a ponto de vencer. Outro trunfo do tucano é o apoio de prefeitos — a coordenação de campanha contabiliza um número superior a 600 prefeitos, dos 853 municípios do Estado.

No segundo turno (e, como já disse, acredito que a eleição irá para o segundo turno), pouco vai pesar o eventual apoio ou rejeição das forças derrotadas em 3 de outubro, já que nenhuma das demais candidaturas conseguiu se firmar como “terceira via”. Vai pesar mesmo é o empenho dos principais cabos eleitorais em questão: Lula, Dilma e Aécio (ele próprio candidato a Senador. Só uma tragédia com proporções bíblicas o impede de ficar com uma das duas vagas). Isso e, principalmente, o voto do eleitor em 3 de outubro. Provavelmente o vencedor terá pequena margem de vantagem sobre o adversário.

Na disputa pelo Senado, a segunda vaga será decidida de forma semelhante à disputa ao governo: ainda existem vários indecisos, e eles serão o fiel da balança entre o ex-presidente Itamar Franco (PPS), apoiado por Aécio, e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), apoiado por Lula e Dilma. Por enquanto, a vantagem é de Itamar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Serra e a Nova Schin

A campanha eleitoral do presidenciável do PSDB, José Serra, me parece a campanha de marketing lançada pela cervejaria Schincariol há alguns anos: a de pegar um produto com altíssima rejeição e mudar a imagem, radicalmente. Alguém se lembra do slogan "Experimenta! Experimenta!", usado para promover a Nova Schin? Pois Serra agora se apresenta como um produto reformulado: homem de origem humilde, chamado de "Zé" em seu jingle (que cita até mesmo, vejam só, Lula da Silva). A diferença entre o candidato e a cerveja (pelo menos na minha opinião) é que, ao contrário da bebida alcóolica, o candidato a presidente não tem nada de novo.

O José Serra de hoje é o mesmo José Serra de sempre, o mesmo que perdeu a eleição para Lula em 2002, do mesmo PSDB, aliado ao mesmo PLF (que agora, usando da mesma estratégia, se chama DEM. Mas é a mesma coisa, com a mesma turma). Serra quer mudar o rótulo e dizer ao eleitor: "Experimenta"! Mas o produto é o mesmo. Serra não quer se mostrar como oposição a Lula, mas é exatamente isso que ele é, e o vice dele, o Índio, mostra isso cada vez que abre a boca.

O tucano quer se apresentar não como "anti-Lula", mas como o "pós-Lula". Falácia. E das bravas! Serra, o PSDB e o PFL (ooops, os "Democratas") representam a retomada do projeto interrompido em 2003, o projeto privatizante, de sucateamento da máquina pública, de alinhamento e subserviência aos interesses políticos e econômicos contrários ao interesse nacional, e de redução do tamanho e da atuação do Estado Nacional. Serra e seus aliados representam a perseguição aos movimentos sociais e reivindicatórios - quem duvida pode perguntar aos professores da rede de ensino do Estado de São Paulo, os mesmos que a Polícia Militar de Serra reprimiu à base da cacetada.

O Serra de 2010 é o mesmo Serra de 2002. Representa hoje os mesmos interesses que representava há oito anos. Por mais que ele e o PFL queiram agora ser o "Zé" e os "Democratas", e dizer a todo mundo "Experimenta! Experimenta!", eu é que não vou querer me arriscar a provar aquele sabor amargo da antiga Schincariol.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Seleção Brasileira: a gente não vê por aqui

Viram o jogo do Brasil ontem? Viram o primeiro jogo da era Mano Menezes? Viram as estreias de Neymar e Paulo Henrique Ganso com a camisa amarela? Viram os gols de Neymar e Alexandre Pato, na vitória por 2x0 contra os Estados Unidos, jogando em Nova Jérsei? Eu não vi. Culpa única e exclusiva da Rede Globo de Televisão, que compra a exclusividade nos direitos de transmissão, e não exibe o jogo. Não exibe e não libera a transmissão para outros canais que tenham interesse em mostrar a partida, como a Bandeirantes ou a Record.

É um absurdo sem tamanho. Eu não me lembro de outra ocasião em que um jogo da Seleção, por mais insignificante que fosse, não tenha sido transmitido em tv aberta. E esse jogo, ainda que amistoso, tinha a importância de ser a primeira partida do novo técnico, após o fracasso na Copa do Mundo (e, portanto, início de preparação para próxima Copa. Que será disputada no Brasil), e havia também o “apelo comercial” das presenças de atletas queridinhos da opinião pública. O horário do jogo era 21h11, no horário de Brasília. Mas a “Vênus Platinada” não pode deixar de exibir o que é o carro-chefe de sua programação: a novela das oito, que começa por volta de nove horas da noite. Curioso é que a Globo é famosa por interferir nos horários das partidas de futebol — justamente para satisfazer suas próprias conveniências.

Alguém duvida que a família Marinho, se quisesse, teria alterado o horário da partida e a exibido? Seria revanche pelas atitudes do ex-técnico, o Dunga, que peitou a “toda poderosa” durante o Mundial, cortando privilégios que já aconteciam há uma eternidade? Deve ser — mas, francamente: isso importa muito pouco. Assim como, aparentemente, a Globo também se importa muito pouco com o interesse de sua audiência, e a força a engolir (com catchup?) o sotaque italiano-macarrônico da novela das oito. A vontade da opinião pública é que deveria pautar a programação, mas talvez a emissora ache que o povo tem mais interesse em novela que na Seleção, no Neymar, no Ganso e no Mano.

Quis retaliar a emissora, e proibí meu filho Gabriel de ver o Casseta & Planeta (que também já foi bem mais engraçado do que é hoje). Atitude quixotesca a minha, até parece que isso teria alguma influência no índice de audiência. Mas é revoltante essa situação de monopólio. Monopólio tamanho que a única emissora exibindo a partida de ontem foi a SporTV, canal a cabo do grupo GloboSat. A partida ainda foi transmitida pelo portal de internet da Globo (pasmem: com narração do Galvão Bueno e tudo o mais!). Como não pude ver, tive que me contentar em ouvir o duelo entre Brasil e ianques. Adivinhem só: a rádio que estava narrando o jogo era a ... (ganha um doce quem adivinhar)... Rádio Globo! E a foto que ilustra este post é da Agência Reuters — mas eu a achei no site do Globo Esporte. Ah, maldito monopólio!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CQC e o novo Estatuto do Torcedor

Kaká beija a Jabulani, Tom Cruise ganha uma camisa personalizada da Seleção Brasileira e Dilma Rousseff recebe uma cuia de chimarrão durante um comício em Porto Alegre. Esses três fatos, aparentemente sem qualquer relação um com o outro, têm duas coisas em comum: a primeira é que os três ganharam repercussão no noticiário nacional. A segunda: por trás deles estava um integrante do Custe o Que Custar (CQC), programa "jornalístico-humorístico" exibido pela tv Bandeirantes às noites de segunda-feira (com reprises aos sábados).

Os sete homens e uma mulher que se vestem com ternos pretos e óculos escuros, bem ao estilo do filme Homens de Preto, se especializaram em causar polêmica e em fazer humor, "custe o que custar". Já até apanharam por isso. Porrada mesmo, não é força de expressão. Já foram impedidos de entrar no Congresso e reclamaram de atentado à liberdade de expressão. E era mesmo. O programa está no ar há praticamente três anos, e tem grandes méritos, como levantar discussões, ao mesmo tempo em que faz rir, e repercutir temas que estão em voga na mídia (além de outros que não estão, mas poderiam ou deveriam estar). Só que o CQC também pode cometer o erro de exagerar. E exagerou mesmo, nas críticas feitas ao Estatuto do Torcedor. Isso aconteceu no programa exibido no dia 2 deste mês.

O novo Estatuto de Defesa do Torcedor foi sancionado pelo presidente Lula no final de julho. Entre os tópicos da nova lei estão a criação de juizados especiais em ginásios e estádios, a inibição ao trabalho de cambistas, além de outras medidas que, em tese, aumentariam o conforto e a segurança de torcedores. Tudo muito bacana, não fossem as dificuldades de aplicação da lei (inclusive no que se refere às punições, que estariam mais rigorosas) e alguns pontos polêmicos, como as proibições à venda de bebida alcóolica e aos cânticos ofensivos e que contenham palavrões. E aí veio a crítica do CQC, e aí vem minha crítica à critica do programa.

A lei busca avanços na qualidade dos estádios (se vai conseguir esses avanços, ou não, já é outro assunto), e o grande destaque da lei é a proibição aos palavrões? O tópico teve tanta ênfase, que por várias vezes ao longo daquele programa foi mencionado, sempre fazendo alguma gracinha - que, ao meu ver, era sempre depreciativa. Não que não caiba crítica, cabe sim. O próprio CQC exibiu um comentário do Juca Kfouri, que me pareceu bastante ponderado. O jornalista da ESPN disse que a lei era um texto que defendia "a energia elétrica e a água encanada, tamanha a obviedade" e, ainda segundo o Juca, vários pontos do Estatuto já são contemplados pelo Código de Defesa do Consumidor. Mas o jornalista reconhece que a lei não deixa de ser um avanço, desde que "pegue" (Só no Brasil, isso de lei "pegar ou não pegar"...).

O desdém da trupe de Marcelo Tas à nova lei soou forçado, principalmente para quem alega correr atrás do interesse público, custe o que custar. É do interesse público a rejeição a uma lei que quer melhorar o ambiente nos estádios?

Agora, vamos combinar uma coisa: proibir cerveja e palavrão? Ah, que merda! O filho da puta que sugeriu uma porra dessas tem mais é que tomar no cu! Mas que caralho...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Faltam dois meses para eleição

O dia 3 de outubro será a data em que os "190 milhões em ação" voltarão às urnas (número arredondado bem para cima, se formos levar em conta as abstenções, votos em branco, votos nulos...). Será o dia de votar para deputados estaduais, federais, senadores, governadores e presidente da República. Eu já disse isso aqui: no calendário do brasileiro em 2010, as eleições começam com o fim da Copa.
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Ano que vem teremos um novo presidente, mas quem? Ainda é difícil dizer, já que a campanha começa pra valer mesmo é com o horário gratuito em rádio e tv - anote no seu calendário: dia 17 deste mês. Já começa meio tarde... Em outras eleições, a essa altura o pessoal já se divertia com os tipos estranhos e engraçados que apelam à bizarrice para conquistar votos, e se revoltava com certas "figurinhas repetidas" tentando permanecer mais quatro anos com o poder na mão.
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É tempo de pesquisa eleitoral, para dar uma noção de como as coisas andam. E aí é o ponto em que eu queria chegar (este deve ser o texto com mais enrolação que eu escrevo). Comentei, no post anterior, a discrepância da pesquisa Datafolha com a do Vox Populi. Pois bem, no final de semana saiu mais uma pesquisa, a do Ibope. O Vox Populi tinha dado vantagem da petista Dilma Rousseff sobre o tucano José Serra, 41% contra 33%, e logo em seguida o instituto do Grupo Folha fala em empate técnico, com ligeira vantagem tucana: 37% contra 36%. Se o Ibope vale como desempate, então é a petista na frente: segundo o instituto, Dilma subiu 3%, e foi para 39%, enquanto Serra caiu 2%, e chegou aos 34%.
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Minha humilde, modesta e singela opinião: ficou mal para o Datafolha.
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EM TEMPO: O Rolling Stone Mick Jagger, preocupado com o futuro de seu filho "meio brasileiro", Lucas (filho do roqueiro com a apresentadora Luciana Gimenez), prometeu se engajar na campanha presidencial. Depois de ouvir as declarações de Sylvester Stallone, que recentemente gravou um longa metragem no país, de que o brasileiro aplaude quando um gringo vem aqui explodir prédios, Jagger disse que apoiará a criação do Ministério da Segurança Pública, uma das bandeiras de José Serra. O Stone prometeu apoio integral à campanha tucana. Agora vai!

"I can get no satisfaction!"